quinta-feira, 20 de julho de 2017

Silêncio tagarela

Foto: Reprodução/Livraria Pensar

(Coluna – Aldiney do Monte Aguiar)


Meus silêncios são sempre ensurdecedores, por isso tagarelas. Moro com mais oito caras em um condomínio, aqui, em Sobral, e sei muito bem o que significa estar em um local com pouca privacidade e, consequentemente, ausência de calmaria (moro perto de estrada), mas ainda consigo, surpreendentemente, momentos comigo mesmo, sem qualquer barulho exterior, em que fico absorto com meus pensamentos (a única coisa realmente livre em nós). Encontrava-me folheando umas páginas do livro de Nelson Rodrigues, “A vida como ela é”, em uma das livrarias da “Pensar”, em Sobral, quando me atentei para um grito perturbador; alguém gritava comigo em meio ao silêncio de uma livraria. Mas quem seria idiota o suficiente? Ignorei, inutilmente, aquele grito desesperado e assustado. Ninguém mais ouvia, mas como poderiam? Eram gritos direcionados. Gritava comigo. Em meus silêncios, entabulo diálogos comigo mesmo. Apenas o sono e a morte trazem (mas não nos proporcionam) o silêncio verdadeiro.




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